quarta-feira, 17 de junho de 2009

O íntimo compositor.

Um compositor, o compositor. Aquele que transparece em palavras o sentimento que sente, que quer sentir, escreve com sutileza, que se deixa levar, escreve.
O compositor senta em uma sala branca, sem nada apenas duas cadeiras, em uma ele senta, na outra está aquele que será sua criação, porém esta é apenas um boneco, sem rosto, sem roupas, um manequim. Em sua mão há um bloco de papel e uma caneta, o sentimento de perda aflora e sem mais nem menos aquele boneco sem vida chora, mesmo sem olhos há uma expressão de dor, de angustia, suas mãos tocam o peito e as lagrimas escorrem. Os primeiros versos nascem:

“Ao arder do amor
Em uma paixão morta
Morro na felicidade
E vivo na Saudade”

Aquele manequim que chorava, agora ganha um grisalho cabelo, olhos, nariz, boa, uma pele surrada pelo andar de uma dura vida. Agora seu peito bate, a dor aumenta, os seus dedos tortos do trabalho pressionam o surrado coração. Outros versos são escritos e roupas lhe são atribuídas e de um olhar fundo, sem propósito, ainda escorrem as lágrimas.

“O apagar gradativo da luz de esperança
Uni-se aos passos de meu amor
E como se não bastasse, não há reação
Vejo o fim de uma luta por essa paixão”

O compositor agora junto com seu criado chora e sente toda dor que aquele está por sentir. A sincronização é tanta, que o galpão, a cada minuto mais branco fica, refletindo apenas os dois, não há onde olhar, observa que a angustia gera um campo de energia que está interligada, agora o manequim tem nome, tem sentimentos, todos!

“Se pudesse mudar o destino
Até o meu nome herdado de meu pai Aquino
Recusaria
A você meu bem eu voltaria”

E o fim desse compositor está a chegar, vê que a idade cada vez mais chega o nosso manequim. Ele não está bem, agora até doença tem. Em seus braços não há força para pressionar a recorrente dor que mora em seu peito. O choro tão grande quanto era, continua, agora seus pensamentos são vistos, a imagem de uma linda mulher, Maria Mulher, era seu amor, é seu amor. Amor de Aquino que a única herança de seu pai recusou, para acabar com o desenrolar dessa dor. O gran finale chega, agora gritos da dor da perda, junto com um sorriso reluzente aparece, a felicidade do fim de sua angustia chega e o compositor finaliza aquilo que fora uma saga de agonia.

“Maria, que um dia toquei
Agora apenas imagem tenho
Maria que amo
Sei que acabou, mas lhe ver sorrindo
Com aquele pequeno menino, dói.
Morro um pouco por dia,
A cada suspiro, respiro.
Mas o fim chegou, Maria
Morro triste por tua ida
Mas feliz pelo fim da minha agonia.
Maria, Maria que me fez sorrir
Que me fez viver
A quem fé depositei,
Levo comigo, para que viva
Livre dos pensamentos desse velho doente
Fecharei os olhos com sua imagem sorridente.
E se um dia na luz nos encontrarmos
Com o amor eterno jurado
Esperarei,
Pelo aperto de mão
Para sim estar reconfortado
Paixão.”

Bruno Sátiro de Souza

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